Normalmente, o retorno das aulas é uma ocasião comemorada por familiares, alunos e professores. Entretanto, a pandemia ocasionada pela Covid-19 tem deixado a população dividida, principalmente com a possibilidade da volta das atividades presenciais.
Até o final de junho do ano passado, o Brasil encontrava-se entre os países que mantiveram suas escolas fechadas por mais tempo, de acordo com um relatório divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A média da OCDE era de 14 semanas, enquanto no Brasil, as escolas permaneciam sem funcionar presencialmente há 16 semanas.
Durante aproximadamente 7 meses, a grande maioria das instituições de educação básica do país adotou o formato remoto de ensino, através de aulas de vídeo, aplicativos e também de materiais impressos que foram entregues às famílias.
Neste tempo, questões como desigualdade de acesso à internet e a condições adequadas de saúde e de estudo, deixaram especialistas preocupados com relação ao futuro da educação no Brasil.
Além disso, a comunidade científica alerta que a falta de convívio social com colegas e educadores pode causar prejuízos irreparáveis para o desenvolvimento da criança, tanto do ponto de vista cognitivo, como do emocional.
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Quando será o retorno das aulas em 2021?
Diversos governantes estaduais já anunciaram o retorno das aulas para 2021, bem como o formato que será utilizado. Até o momento, 15 estados já definiram o início da retomada, como é o caso de São Paulo, Goiás e Ceará.
Com base em um levantamento feito pelo Uol, junto às Secretarias de Educação ao redor do país, nós compilamos a previsão da volta às atividades escolares de acordo com o mês e modelo de ensino utilizado, confira:
Retorno em janeiro
Apenas dois estados retornarão às atividades ainda esse mês, como é o caso de Goiás e Piauí. No primeiro, a volta às aulas serão presenciais, com rodízio de alunos; já no segundo, o retorno se dará no formato híbrido.Retorno em fevereiro
Treze estados já confirmaram o início do ano letivo para fevereiro. Confira o modelo que será utilizado em cada região:- Aulas em formato híbrido: Ceará, Mato Grosso, Paraíba (apenas escolas particulares), Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins;
- Sem formato definido: Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Retorno em março
Acre, Alagoas, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Sergipe estão programados para retornar às aulas em março. A maioria dos estados confirmou a retomada presencial dos alunos e professores, de maneira escalonada, com exceção do Distrito Federal e Minas Gerais, que anunciaram que o formato de ensino utilizado dependerá da situação epidemiológica das regiões nesses meses iniciais.
Sem retorno previsto
Os governadores dos estados do Amapá, Amazonas, Bahia, Pará, Rondônia e Roraima, ainda não divulgaram uma data exata para o retorno das aulas, porém, garantem que a retomada se dará ainda neste ano.
| + Leia em detalhes o plano de volta às aulas em 2021 ao redor do Brasil
Volta às aulas presenciais no "novo normal"
Cada estado possui - ou está elaborando - um protocolo específico de retorno das aulas, com orientações e regras sanitárias a serem seguidas. No geral, as escolas que retomarão as atividades presenciais adotarão um sistema de rodízio entre alunos por turmas e séries. A capacidade varia entre 20% e 50% do total de estudantes, dependendo da região.
Medidas como distância entre carteiras, uso de máscaras, e disponibilidade de álcool em gel, serão obrigatórias em todas as instituições de ensino que voltarem a atuar presencialmente.
O presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP), Ademar Batista Ferreira, diz que a volta às aulas presenciais deve acontecer em 2021, mesmo que seja aos poucos. Mas o professor entende também as necessidades de cada família. “O retorno deve ser opcional”, afirma Ferreira, “é um direito da família decidir se manda ou não manda o seu filho para a escola".
Para o educador, a maior dificuldade a ser enfrentada em 2021 é a identificação das dificuldades comportamentais de cada aluno, principalmente no que diz respeito ao uso excessivo da tecnologia. Além do acolhimento socioemocional, Ferreira afirma que as instituições de ensino terão que retomar o processo de aprendizagem, abordando os pontos principais que ficaram para trás antes dar sequência aos temas seguintes.
A fim de ajudar as prefeituras no contexto de retorno às aulas, o Todos Pela Educação elaborou o documento “Educação Já Municípios”. O texto traz 25 recomendações essenciais para orientar os municípios a receber os alunos e educadores. Dentre elas, estão:
- Elaborar um planejamento de retorno gradual das atividades presenciais em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde, bem como a criação de protocolos sanitários;
- Diagnosticar a infraestrutura física das escolas;
- Verificar os materiais necessários para a reabertura;
- Promover o acolhimento socioemocional dos alunos e educadores;
- Formar e apoiar os professores;
- Realizar avaliações diagnósticas e formativas para nortear o processo de aprendizagem e recuperação.
Por que o retorno das aulas deve acontecer?
Mesmo em meio a um contexto pandêmico, especialistas do mundo inteiro defendem a volta das atividades presenciais. Além dos impactos na aprendizagem e no equilíbrio emocional, a UNESCO apresentou outras consequências adversas do fechamento das escolas, como:
Abandono escolar
No Brasil, a taxa de evasão escolar já atingia 20% dos jovens entre 14 e 29 anos de idade, antes da pandemia. Com o fechamento prolongado das escolas, a falta de recursos para acompanhar as aulas a distância e a crise econômica, obrigou diversos estudantes a deixar os estudos de lado para ajudar a complementar a renda familiar.Má nutrição
Um estudo feito pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 2003, revela que a merenda escolar é considerada a principal refeição do dia para 50% dos estudantes da região Nordeste e 56% para a região Norte.Por conta do fim das aulas presenciais em 2020, o custo da alimentação que antes era dividido com a escola passou a ter uma sobrecarga nas famílias, mesmo com a implementação de programas de distribuição de refeição adotados pelos governos municipais e estaduais a fim de suprir essa demanda.
Maior exposição a situações de abuso e violência
Para muitas crianças no Brasil, a escola não é apenas um espaço de desenvolvimento cognitivo e social, mas sim um refúgio seguro para fugir da violência e do crime. O longo período longe desses locais, deixa as crianças ainda mais expostas a situações de abuso e de exploração.
Em entrevista dada à Rádio Bandeirantes, em dezembro, a presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, disse que, nesse contexto pandêmico, “não existe um lado que está certo e um lado que está errado”. Porém, a especialista explica que “não dá para tolerar uma sociedade que acha que está tudo bem estar tudo aberto e a escola fechada”.
Segundo Cruz, “o lugar mais seguro para elas [crianças] é uma escola que implementa e respeita todos os protocolos sanitários.” Para isso, é preciso que a educação passe a ser vista como um serviço essencial - como sempre foi - e que as instituições estejam devidamente preparadas para o retorno das aulas.